terça-feira, 16 de novembro de 2010

Boato

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Por João Paulo Guerra

EMPRESAS COTADAS
no PSI 20, que aumentaram lucros em 40 por cento nos primeiros nove meses do ano, devem estar a cantar hossanas à crise. Tal como as grandes empresas que ganham milhões escapando legalmente ao Fisco, apesar das subidas dos lucros. Assim como os milionários da Bolsa, com participações acima dos 10% e por esse motivo isentos de tributação, devem estar a aplaudir a bem-aventurança desta crise que se abate sobre o mundo, a Europa, o país mas, aqui chegada, distingue quem sofre e quem acumula.

E como é assim que se passam as coisas, não faltará daqui a pouco quem diga que a crise é um boato e que aquilo que verdadeiramente se passa é que os imensamente ricos precisam de esportular os derradeiros cêntimos dos bolsos dos últimos dos pobres para encherem um pouco mais o saco. Não me canso nunca, nesta coluna, de citar o velho e grande João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett: "E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico". Garrett foi um liberal do tempo em que os ideais liberais derivavam da liberdade contra a escravatura, e não, como hoje, procuram um étimo na liberdade de escravizar e explorar o próximo até mais não.

Por estes dias, se em Portugal a democracia e as instituições funcionassem, ter-se-ia produzido um profundo abalo com as duríssimas críticas da Igreja à absoluta insensibilidade social da classe política, uma casta que trata da vidinha, em vez que cuidar da causa pública.

E assim vai a crise. Com a miséria anunciada de uma absoluta maioria e a riqueza acumulada dos ricos que se produzem com milhões de pobres.
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«DE» de 16 Nov 10