sexta-feira, 26 de novembro de 2010

«Dito & Feito»

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Por José António Lima

PASSOS COELHO tem falado pouco, nas últimas semanas. O que só tem beneficiado a sua imagem junto dos portugueses, como se vê pelos resultados das sondagens.

Numa das suas, agora espaçadas, intervenções, o líder do PSD traçou um retrato sombrio mas realista da crise em que o país mergulhou. Falou da dívida do Estado escondida «nos passivos das empresas públicas» e nos encargos das «parcerias público-privadas que, a partir de 2014, vão ter um custo anual que pode chegar a dois por cento do PIB», alertou que o défice real deste ano será «de 9,5%» e acrescentou: «Não há capacidade para criar emprego, não há dinamismo na economia».

Passos Coelho fez, por fim, questão de avisar os portugueses que esta crise não é passageira, nem será ultrapassada em dois ou três anos: «Estamos convencidos que em duas legislaturas, em oito, dez anos, somos capazes de mudar estes dados actuais, de inverter esta situação». Louve-se a franqueza e a clareza do discurso. Onde parece ter acabado o tempo das promessas enganadoras e das ilusões de facilidades a curto prazo.

Mas seria conveniente que Passos Coelho nos esclarecesse o que se propõe fazer para inverter esta situação, que programa tem (ou não tem?) na cabeça para resolver o definhamento do país e da sua economia. Como irá, por exemplo, «baixar a despesa pública em, pelo menos, 10 pontos percentuais», segundo prometeu. Ousará atacar o gigantismo e o despesismo do Estado eliminando, pelo menos, metade dos institutos, fundações, empresas públicas e municipais que apenas servem para duplicar serviços e pagar ordenados mais altos às clientelas partidárias? Irá reduzir o enxame anacrónico de estruturas administrativas locais, baixando para 1/3 (100) o excesso de 308 concelhos e para 1/4 (1.000) a multitude de mais de 4.000 freguesias? E, já agora, para 180 (ou mesmo 150, com a revisão constitucional) os supranumerários 230 deputados? Ou ficará tudo como dantes?

Passos Coelho pouco ou nada esclarece. O que se sabe é que já recuou, a par com o PS, e abriu uma excepção à redução salarial nas empresas públicas. Não é, seguramente, um bom sinal para o futuro.
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«SOL» de 26 Nov 10