terça-feira, 9 de novembro de 2010

Circo

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Por João Paulo Guerra

A DESQUALIFICAÇÃO da classe política está na ordem do dia e ainda ontem, em entrevista a este jornal, o dr. António Vitorino dizia que “há um empobrecimento das lideranças”. Basta olhar em redor. Ou entrar em cada sede partidária e percorrer a galeria dos líderes. Lá estão, a olhar para a posteridade, Mário Soares, Sá Carneiro, Freitas do Amaral, ou Adriano Moreira, ou até mesmo Francisco Lucas Pires, o velho Álvaro Cunhal. Independentemente do respectivo ideário, havia alguma grandeza naquelas figuras. Agora pensemos nos próximos cromos a juntar às galerias e só vemos retratos ‘a la minute' de pequenos, apressados e fugidios líderes, pouco ou nada significantes perante a História.

E esta é a geração que inventou precisamente os contratos por objectivos e a avaliação permanente: os objectivos ficaram nos patamares dos mais absolutos fracassos e a avaliação, a ter sido feita, daria um fiasco comprometedor. E não venham com a conversa de que a avaliação da classe política é feita nas urnas porque ao povo só lhe resta votar no que há, no que as cliques partidárias lhe servem à mesa das eleições, com acompanhamento de demagogia banhada em corantes e conservantes.

Imaginemos que as promessas eleitorais passavam a ser contratos por objectivos assinados pelos governos. Baixar o défice, não aumentar impostos, criar 150 mil empregos e outras balelas. A esta hora haveria filas de ex-ministros e ex-secretários de Estado no balcão para o subsídio de desemprego.

E algum governo cumpriu a promessa de fazer funcionar a Justiça, estabilizar o sistema educativo, garantir saúde aos portugueses, acabar com as pensões de miséria, criar postos de trabalho? Ou os portugueses andam todos a fingir que acreditam em números de ilusionismo de um circo de artistas decadentes e falhados?
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«DE» de 9 Nov 10