segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Blindados II

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Por João Paulo Guerra

A ADMINISTRAÇÃO não consegue já conciliar as suas mentiras sobre o folhetim dos blindados.

A campanha promocional para compra de seis carros blindados para a PSP foi rodeada do maior alarmismo sobre a iminência de ataques terroristas em Portugal a propósito da realização da Cimeira da NATO. A Administração, ao mesmo tempo que jurava não querer espalhar "cenários alarmistas", foi semeando cenários alarmantes: pululam por aí grupos extremistas, alguns dos quais já receberam treino de acções terroristas, patati, patatá.

A primeira mentirola foi detectada quando a GNR veio dizer publicamente que estava em condições de emprestar à PSP blindados que eram para ter sido usados no Iraque, mas não chegaram a tempo e foram substituídos por carros emprestados pelos italianos. O que não impediu a GNR de adquirir blindados que chegaram fora de tempo e, por esse motivo, estarão a enferrujar por falta de uso. Alguém terá percebido então que o alarmismo se destinava simplesmente a explicar o gasto de cinco milhões para compra de seis blindados excedentários em relação às necessidades da PSP e GNR.

Certo é que, sendo dado adquirido que os blindados não chegam a tempo da Cimeira, a encomenda se mantém. Até parece que Portugal não tem mais nada em que empatar dinheiro a não ser em material repressivo.

Finalmente, quando se confirmou que os blindados não iam chegar a tempo da Cimeira, a Administração deixou escapar que afinal os blindados se destinam a possibilitar a entrada da PSP nos "bairros problemáticos". E como todos os antecedentes de casos deste tipo demonstram, os bairros tornar-se-ão muito mais "problemáticos" com patrulhas de blindados.

Uma verdade parece flutuar à superfície de tanta mentira: os blindados destinam-se a combater "inimigos internos".

«DE» de 12 Nov 10