segunda-feira, 5 de julho de 2010

Dedicado aos pedaços de asno


Por Ferreira Fernandes

O MAIS EMOTIVO que tivemos até 10 de Junho de 2010 sobre África do Sul anunciava um desastre: jornalistas roubados, violência policial perto dos estádios... O Mundial 2010 ia ser um horror. Comentaristas televisivos desdenhavam do país, sul-africano mas galopantemente africano, incapaz para acontecimento tão importante...
Abrindo hoje a última semana do Mundial, faço um balanço. E não, não vou fazê-lo geral, o que é sempre impreciso, nem sublinho uma daquelas características que, não sendo de deitar fora, dizem pouco (género: os sul-africanos são gente simpática...) . Vou para pormenores técnicos com consequências que cada um pode reconhecer em sua casa: nunca um Mundial de futebol foi tão bem filmado. E não vale justificar com as melhorias tecnológicas desde o Mundial da Alemanha, há quatro anos: nunca um jogo europeu, daqueles que ainda se faziam em Maio passado, foi tão bem filmado. Os muitos ângulos com que se vê uma marcação de canto, as bochechas de Xavi a tremer no momento do remate, o círculo, filmado de cima, da oração da equipa antes do jogo, o olhar vazio, falhado o penálti, do ganês Gyan, a angústia do uruguaio Suárez seguida de salto de alegria, o choque entre duas chuteiras, o pedaço de relva que salta...
Nunca se filmou assim o futebol. E quem filmou chama-se South African Broadcasting Corporation. Como o nome indica, não é de Hamburgo.

«DN» de 5 Jul 10