sábado, 3 de julho de 2010

Lello, o avião e os credores

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Por Ferreira Fernandes

EM VIAGENS CURTAS de avião, os deputados passam a ir em classe económica. Antes viajavam em executiva. É uma medida que se insere na vontade de os de cima mostrarem aos de baixo que estamos todos no mesmo avião. Há nessas restrições alguma poupança real (a executiva custa, às vezes, quatro vezes mais), mas o que há, sobretudo, é a intenção de os políticos se mostrarem solidários com o apertar geral do cinto.

Ainda há dias, Sarkozy determinou que em território francês os políticos só viajariam de avião quando não houvesse ligações de comboio. Há demagogia nessas medidas, pois há. Passar de executiva para económica equivale dizer àqueles a quem a crise fez passar de empregado para desempregado que há uns que cortam as unhas enquanto eles tiveram os dedos cortados, pois é. Mas o simples anúncio da poupança é o reconhecimento de um dos fundamentos da democracia: quem manda tem de justificar-se perante quem o elegeu. A restrição isentava o presidente do Parlamento, mas Jaime Gama disse que também ele passará a viajar em económica. Gama percebeu. Já o deputado José Lello disse: "É degradante (...) O que dirão os nossos credores se a segunda figura do Estado viajar em económica?"

Lello não percebeu duas coisas. A primeira é que todos os credores apreciam que os devedores poupem. A segunda é que os credores não são para aqui chamados; os eleitores, sim.
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. «DN» de 3 Jul 10