sexta-feira, 30 de julho de 2010

Espiões

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Por João Paulo Guerra

AFINAL, O MESMO ‘site’ da Internet que revelou segredos militares norte-americanos no Afeganistão também desvendou segredos da GNR no Iraque.

O facto, assim fanfarreado ontem pelo DN, constituirá um grande motivo de orgulho para as NT (Nossas Tropas, por oposição ao IN, o inimigo) e uma imensa surpresa para a generalidade dos portugueses. Poucos portugueses saberiam que Portugal, quanto mais a GNR, teriam segredos militares de suficiente interesse para serem devassados. Segredos militares portugueses são mais do âmbito das compras de equipamento e material ou então do puro e simples domínio da "guerra do Solnado". "O vosso prisioneiro já confessou tudo: diz que vocês vão atacar por baixo. Ah vão atacar por cima? Mas que grande vigarista."

Lendo o texto da notícia fica-se no entanto com alguma frustração e um travo amargo a azedar a produção portuguesa de bravatas militares. Afinal, a informação secreta da GNR pespegada na Internet é produzida por um capitão de Cavalaria, membro da célula G2, no Estado-Maior da Multinational Specialized Unit, em Nassíria, mas limita-se a processar as informações recolhidas no terreno pelos serviços secretos dos países envolvidos a sério no conflito, designadamente Inglaterra e Itália, relativas às ameaças terroristas e à situação política e social. Ou seja: tanta especulação, tanto alarme - ai, ai, ai que estão a meter o nariz nos nossos segredos da pólvora - e bem vistas as coisas os espiões portugueses limitam-se a fazer ‘copy and paste' de relatórios dos verdadeiros serviços secretos que actuam no Iraque.

Portugal teve uma guerra mas perdeu a oportunidade de a ganhar. E agora a Nação Valente nunca mais se reencontra. O que é péssimo para a auto-estima, embora estimule a imaginação.
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«DE» de 30 Jul 10